domingo, 14 de dezembro de 2008

O QUE HOUVE COM O CRISTIANISMO?



Não acredito que o cristianismo deixou de ser a religião mais desenvolvida do ponto de vista moral e espiritual, porém o que aconteceu foi, com o passar do tempo, o aparecimento de um horripilante abismo entre a teoria e a prática, ou seja, o que os religiosos fizeram com a religião.
Nos primórdios da doutrina cristã, antes da combinação pérfida com o Estado Romano, antes dela se tornar uma igreja institucionalizada o que se depreendia era uma comunidade de caráter fraternal mais preocupada com o bem comum do que com as satisfações particulares e as conquistas terrenas... Uma irmandade em perfeita comunhão com os valores espirituais. Pessoas abnegadas que renunciavam tudo em prol de uma causa, viviam e morriam defendendo o seu credo... Parece que nesses primeiros tempos o sermão da montanha era um oráculo poderoso que determinava o comportamento moral dos seguidores de Jesus. A síntese da lei mosaica era encarada e seguida com muita seriedade e almejada como a maior conquista de um cristão: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo a si mesmo.
Bons tempos aqueles em que você, faminto e sedento, debaixo de um sol escaldante, vagando pelas montanhosas regiões da Galiléia, já com os pés fatigados da longa viajem, encontrava um dos seguidores daquele estranho rabino, que pregava a igualdade entre os homens, para lhe acolher e tratar com toda bonomia que a humanidade junto com a divindade puderam produzir.
São Francisco de Assis tentou trazer de volta para igreja católica as características básicas do verdadeiro evangelho, tentativa vã, pois o papado, já totalmente corrompido pelo mundo e pelo poder temporal, demonstrava total indiferença ao apelos do monge mendicante. No protestantismo a mesmo aconteceu. O árduo trabalho dos reformadores foi aos poucos se diluindo pelas vicissitudes das crenças contraditórias e idiossincrasias pecaminosas da vida moderna, numa junção irreconciliável da vida secular entranhada de regozijos carnais com a vida religiosa conseqüência de um encontro real com Deus...
Hoje, resta apenas uma saudade nostálgica ou uma perplexa revolta ao nos depararmos com a diversidade de igrejas e seitas, comunidades e grupos se dizendo cristãos, mas tão perto e tão distante de Jesus à semelhança daquele ladrão que ao olhar para o salvador, somente ironizou:
__Se és realmente o filho de Deus, desça da cruz e salve a si mesmo!
As boas novas do evangelho permanecem, seu legado é eterno, mas isso não importa muito para os atuais pseudo-seguidores. O que importa é acumular, acumular e acumular roupas, carros, casas, terrenos, templos, membros, títulos, vendas... Para quem sabe, em seu entendimento tacanho e humanamente miserável, poder usufruir na vida eterna... Nessa babel de evangélicos e cristãos iremos encontrar de tudo: cantores, pregadores, pastores, anônimos membros, ministros e todo tipo de simpatizante do lucro fácil e bolso cheio. Mercenários das boas novas, ou boas notas, como queiram.
A imagem mais forte e real que na atualidade ilustra essa degradante situação da religião cristã são as igrejas luxuosas fechadas a cadeado, enquanto os pobres e sem tetos dormem nas calçadas tendo no sereno das noites frias seu companheiro amável e solidário... Recapitulando, essa indiferença da igreja em relação aos pobres não é novidade nenhuma... Pelo contrário, é bem antiga, Leon Tolstoi, o famoso escritor russo, no século XIX, em um dos seus contos intitulado “De que vivem os homens” escrito após sua conversão, retrata tristemente essa mesma postura.. De lá para cá só piorou... O homem se tornou mais cínico e hipócrita, vivendo na louca ilusão de querer enganar a Deus!

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