domingo, 24 de agosto de 2008

O dízimo

Sempre quando o assunto é dízimo e ofertas, todos indiscriminadamente invocam o profeta Malaquias como o porta-voz oficial da doutrina de benção para aquele que contribui e maldição para aquele que não contribui para o “obra do Senhor”...
O que poucos sabem é que Malaquias não é substantivo próprio, ou seja, não é nome de pessoa, e sim uma expressão hebraica que significa “meu mensageiro”. O profeta pós-babilônico temendo represálias por causa das severas censuras que dirigia aos sacerdotes e a classe dominante, achou mais prudente esconder a identidade.
Mas o judeu que se autodenomina Malaquias é hoje conhecido no mundo evangélico por seu discurso pró-dízimo: “Levai todo os vossos dízimos ao meu celeiro, e haja mantimento na minha casa e depois disto fazei prova de mim, diz o Senhor. Se não vos abri eu as cataratas do céu, e se não derramar eu a minha benção sobre vós em abundância.” Mal.3:10
Como acontece na maioria de caso de descontextualização, desprezam-se o período histórico e a fonte material da doutrina...
Esses dois fatores são importantíssimo para uma interpretação mais segura. Quando o profeta alerta o povo de Israel sobre suas responsabilidades financeiras para com a tribo de Levi, esse alerta está inserido em uma política de estruturação nacional. A classe religiosa e os políticos haviam se afastado da lei mosaica. Os longos anos de exílio babilônico contribuiu para essa indiferença. Os judeus se entregaram `as práticas pagas e`a exogamia, pondo em risco a identidade cultural do povo e a unidade teológica do judaísmo.
A mensagem do dízimo na situação específica em que foi escrita é um alerta para o povo judeu sobre a Soberania divina, como a única força capaz de estabelecer a nação israelense e trazer de volta o antigo esplendor do país e definitivamente não tem nenhum vínculo com a famigerada teologia da prosperidade que faz do evangelho uma carreira empresarial... e dos pastores, capitalistas sedentos. Transformando as boas novas em boas notas, cartilha de riqueza instantânea.
Malaquias nem sequer era rico. E para os antigos profetas riqueza jamais foi um bem em si mesmo, mas sim apenas o resultado de uma vida positiva diante de Deus, estando em segundo plano diante da realidade espiritual que cerca o homem. Ser rico e ser bom jamais foram sinônimos, às vezes, acontecia ser rico e ser bom simultaneamente... Outro dado importante era que os levitas encarregados do serviço do templo e recebedores do dízimo não podiam ser proprietários...
O que diriam Paulo e Pedro ao entrar em uma dessas igrejas contemporânea cuja pregação enfoca apenas os bens materiais como a maior conquista do cristão e colocam o dízimo como mola propulsora dessa doutrina? Que despem do cristianismo sua essência moral e no lugar colocam o dinheiro.

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