segunda-feira, 16 de junho de 2008

A nossa paz de cada dia



A guerra é tão natural ao ser humano que até as religiões criadas para o aprimoramento da sociedade, dela fizeram uso. Parece que nas palavras de Cristo: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido,” há um convite irresistível ao instinto belicoso do homem... Mas Jesus Cristo à semelhança de Gandhi, deixou importantes mensagens pacifistas, pois quando ele aconselha a virar a outra face, diante de uma agressão injusta, ele também está consolidando a paz social (mesmo que as estruturas dessa sociedade sejam imorais), e Gandhi parafraseando a lei de talião nos preveniu de um mundo de mutilados!
Bem, a passos largos, chegamos ao cerne do problema da paz que se resume na seguinte pergunta: Existe alguma possibilidade de equilíbrio social, quando a própria sociedade é fundamentada na injustiça coletiva, ou quando pessoas ou países escravizam outros num estado de permanente crueldade e beligerância? Em que a lei do mais forte é que determina o contrato social?
Duas grande figuras históricas já nos responderam essa pergunta. A primeira foi Moisés, o legislador judeu, que desprezou a vida palaciana egípcia para defender seu povo contra a escravidão, base de toda estruturas sócio-econômico-políticas do Egito. (Sendo isso muito bom para o povo do rio Nilo e muito ruim para os hebreus). Moisés que fora criado como um príncipe, ao tomar conhecimento da sua origem e do sofrimento de seu povo, não hesitou em abalar e demover as conjunturas da sociedade na qual vivia. O resultado todos nós sabemos: a liberdade judaica e as dez pragas que acompanha a humanidade até hoje. O outro personagem, um pouco mais recente, foi Thomas Munzer, teólogo protestante seguidor de Lutero, que se revoltou contra o feudalismo alemão. Inspirado nas idéias de seu mentor, incutiu nos camponeses o germe da revolta, revolta contra o servilismo rural entre classes sociais que agora desfrutavam as bem-aventuranças celestes. Para Munzer era incompatível na mesma pessoa a figura do cristão e do vassalo, servo da terra ou do cristão e do suserano, o senhor feudal. O desfecho dessa aventura religiosa foi trágico: um massacre e a permanência da escravidão agrária. Os nobres germânicos, parece que possuíam a proteção divina. Não se enganem, aparentemente apenas!
É... a paz social não é tão fácil assim! Que digam os cristãos, os muçulmanos, os protestantes, católicos, cátaros, ateus, agnósticos,os budistas, os confucionistas, os xintoístas, panteístas, os comunistas, os capitalistas, os anarquistas...
Em um âmbito menor, também vivemos no dia-a-dia momentos de ameaça e destruição à nossa paz interior. É um serviço médico mal prestado ou não prestado. Um servidor corrupto que cruza nosso caminho. Um produto com preço abusivo. Um vizinho pouco social que teima em ouvir rádio alto no sábado de manhã...
Quando viver em paz significa se submeter passivamente a todas as injustiças, viver em paz não passa de viver vergonhosamente, tanto para o individuo como para o grupo social.
Assim para que possa existir um real estado de equilíbrio é preciso que as forças opostas sejam iguais, e que não existam a figura do opressor e do oprimido.( Pois na balança social qualquer peso a mais em um dos lados gera irreparável prejuízo). Sem esse equilíbrio nunca teremos a paz como um resultado natural do desenvolvimento moral da raça humana e sim como decorrência da opressão subjugadora.

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